EDNA D'OLIVEIRA

A música é a minha vida

23 setembro, 2008

LAURO MACHADIO COMENTA A APRESENTAÇÃO DE " O MESSIAS

Boas surpresas de um Messias de emoções e leveza. Cláudio Cruz ofereceu reflexão intimista que nunca foi menos que entusiasmante.
Realizado com efetivos reduzidos; tendo suas linhas melódicas ornamentadas de modo sóbrio e eficiente; conduzido com mão muito leve, o Messias que Cláudio Cruz regeu, quinta, na Sala São Paulo, reservou-nos gratificantes sutilezas. A visão que Cruz ofereceu não foi a do oratório solene, de exteriorizada majestade, mas a da reflexão intimista sobre os mistérios do nascimento, morte e ressurreição do Salvador. As texturas freqüentemente camerísticas desse tipo de abordagem, em vez de tornarem morna a execução, conferiram-lhe interiorizada dramaticidade, pois cada gesto passou a ter intenso significado. Dentro dessa visão muito humana da peça, suas belezas melódicas também ganharam realce, pela maneira delicada como foram executadas.
O tenor James Taylor é um experimentado intérprete de música barroca. Ao modo muito expressivo como deu início à peça, no arioso "Comfort ye, my people", à força com que cantou a sua seqüência de árias da segunda parte, a voz clara, flexível, a segura técnica de legato e pianíssimo conferiram extrema elegância.
Ao baixo-barítono cabem as intervenções mais heróicas. Detlef Roth, de voz volumosa e sonora, enfrentou muito bem os desafios de "Why do the nations" - cujo acompanhamento nas cordas foi de impecável precisão dinâmica -, ou da temível "The trumpet shall sound", em que foi espetacular o solo de trompete.
As anunciadas Christiane Stotijn e Dorothee Jansen tiveram de ser substituídas; mas as cantoras brasileiras que se apresentaram em seu lugar tiveram desempenho de nível comparável. De timbre cálido e escuro, a voz de Ednéia de Oliveira tendeu às vezes a perder o volume na coloratura; mas foi expressiva a leitura que fez de suas árias. Ela transformou a dor muito contida de "He was despis?d" em um dos mais belos momentos da noite.
Quanto à soprano paranaense Marília Vargas, o refinamento com que conduziu as seqüências de recitativos e ariosos da primeira parte, ou a leveza da ornamentação na lírica "I know that my redeemer liveth", fizeram dela a mais grata surpresa da noite.
Desde a sua entrada em "And the glory of the Lord", o Coro da Osesp fez-nos ter a certeza de que estava ganha a partida. Seja na esperada explosão de alegria do "Aleluia", ou nas linhas imponentes de "Lift up your heads, o ye gates", o desempenho de seus afinadíssimos cantores nunca foi menos do que entusiasmante. E a maneira refletida como Cláudio Cruz lapidou a majestosa seqüência final do "Worthy is the Lamb... Amen" levou este Messias a um encerramento comovente.